O ILUSIONISTA
CONTO
No fim da tarde, Natacha, quando lhe era permitido largar
as suas tarefas que desempenhava num pequeno bar restaurante, dava sempre um
pequeno passeio, botando o olho nas montras das lojas circundantes. Porém, a
que mais gostava e lhe despertava mais atenção era o que alí era exposto, por uma
agencia de viagens. Ficava a ver todas
as imagens do que era anunciado, deixando pressupor maravilhosas viajens, pelos
locais mais exóticos e remotos do mundo. Sempre alimentara, desde muito nova, o sonho de viajar.
Rondava os
vinte e tal anos, loura, alta, com uns olhos azuis e de uma beleza
extraordinária.
Emigrante do
leste da Europa, conseguiu um dia, romper com o imobilismo e pacatez da sua
terra, dando asas ao sonho que acalentava há muito – ir ao encontro de outras
paragens, conhecer o mundo. Depois do curso completado, mais mentalizou-se nessa ideia, nada a fazendo prender aquele lugar frio e inóspito. Desde muito nova, mantinha uma independencia em relação à organização familiar.
Considerando
as tremendas dificuldades económicas sentidas no seu país, facto esse gerador de
um elevado surto de emigração, mais, ainda, espevitava o sonho que sempre
tivera – conhecer outras gentes, outros costumes. Seria uma emigrante, como
tantas outras da sua terra.
Certo dia
tomou uma decisão importante. Iria mesmo viajar.
Com parcos
recursos – alguma poupança amealhada, conseguida através das pequenas mesadas e
alguns dinheiros que havia granjeado através da família, em dias de anos e outros eventos, resolveu, em
primeiro passo, e dentro do pequeno orçamento disponivel, apanhar um comboio,
para Moscovo.
Aí, conseguiu instalar-se, por breve tempo, num
pequeno apartamento, num bairro de estudantes onde travou conhecimento com uma
rapariga que, ali, também se hospedara. Curiosamente com a mesma idade e, também com a mesma
ambição – emigrarem!
Aproveitou
esse tempo para durante o dia visitar alguns museus e aquilo que gostava demais
– o circo. Se há sector das artes que tivessem
sido privilegiados em qualquer país do mundo, não podemos deixar de ter em
conta, o anterior estado soviético, no fomento e apoio que prestava a essa área do espetáculo e também da cultura
.
Natacha,
agora, em companhia da recente amiga, tinham tempo para, as duas, pela noite,
divagarem, nos bares, onde a juventude, exuberantemente, curtia.
Até que
chegou o dia de tomarem a decisão final: a maneira como iriam viajar.
Condicionadas
já, pelo muito pouco dinheiro na carteira, não deixaram de ter em conta que teriam de arriscar, sobretudo, em boleias
oferecidas pelos camionistas de longo curso.
É evidente
que, à partida, tal decisão comportava riscos de toda a espécie. Mas elas
estavam decididas a corre-los. Fazia parte do processo – não havia alternativa.
Se bem pensaram, melhor o fizeram. Em boleias e aventuras mil, algumas, até, com
trocas de favores sexuais, conseguiram chegar até ao sul de Espanha.
Ao cabo de
muitas semanas após terem partido de Moscovo chegaram a uma povoação, numa
pequena localidade balnear a despontar para o turismo.
De ano para
ano qualquer localidade bem situada no mediterraneo,com boas praias,
desenvolvia-se rapidamente, absorvendo um tipo de turismo, em principio,
exploratório e sem grande qualidade. Depois iam - se transformando em estancias
de turismo, especialmente frequentadas por todos os trabalhadores europeus, nos
períodos de férias.
Toda a
logistica era montada espontaneamente, onde a construção civil, tinha o maior
impacto nesse “boom” de crescimento, ano após ano. Nessas praias quentes do
Mediterraneo, durante a época estival, era dado ver grandes autocarros a
despejarem, semanalmente, milhares de turistas, ávidos por curtirem férias ao
sol, num ambiente climático de estabilidade garantida. Tal facto, tinha grande impacto no mercado de
trabalho, gerando milhares de postos de trabalho, a maior parte deles empregos de
ordem sazonal. Não foi, portanto dificil, quer à Natacha, como, também, à sua
amiga, irem arranjando empregos aqui e acolá, muito especialmente, em
restaurantes e bares uma vez que sabiam bem falar a língua inglesa, granjeando
assim o seu sustento em trabalhos de carácter provisório
Natacha sempre
sonhou dar sustento à sua ansia do desconhecido e da aventura. Era desinibida por natureza e estruturada por
uma educação livre de preconceitos e tabus na área do sexo. Em encontros fortuitos com diversos parceiros
que ia conhecendo, as duas amigas, davam largas aos seus apelos sexuais, em relações
meramente ocasionais e descomprometidas, numa qualquer noite de esturdia .
Por aqueles
lados não faltavam ambientes, a facilitar encontros fortuitos numa loucura em
comportamentos desregrados entre jovens.
Os anglo saxónicos eram os que mais
se destacavam nesse estilo de comportamentos.
Grande parte deles procuravam não se fixar, muito tempo, no mesmo lugar.
Grande parte deles procuravam não se fixar, muito tempo, no mesmo lugar.
Natacha e a amiga,
gostaram demais daquela localidade – oferecia-lhes trabalho, tinha uma praia
paradísiaca, apetrechada com tudo o que era necessário para o desfrute do sol e
do mar, onde não faltava todo um universo de bares e boites para o curtimento
da noite.
Certo dia, um
Circo e toda a comitiva assentou arraais
nos terrenos baldios no principio do acesso da vila, não muito longe do
restaurante onde ela, na ocasião, trabalhava .
Como é
caracteristico das gentes do leste, Natacha apreciava muito esse tipo de espetáculo
– exultava com a magia das luzes, focando os fatos brilhantes dos trapezistas,
voando num sincronismo arrepiante exibindo precisão e grande prestação dos seus
corpos atléticos . Ela praticara muito, na sua terra , a patinagem artística, sobre
o gelo. Ficara-lhe, assim, o gosto pela arte da acrobacia e os desempenhos de ordem estética aliados a
essas actividades fisicas.
Naquela noite
de folga, decidiu assistir ao espetáculo tão anunciado pelas ruas, em carrinha
provida de megafone. Em estridente berraria era anunciado o espetáculo a
correr, à noite. Convidou a amiga para
ir com ela, mas obteve uma recusa desta, pelo facto de ter conhecido, nesse
mesmo dia, um rapaz holandês.
Instalada o
melhor possível, num dos lugares da frente, foi aplaudindo as prestações dos
diversos artistas nas suas especialidades.
Mas a que mais a impressionou, naquela sessão da noite, foi o
ilusionista, por sinal o cabeça de cartaz – o grande mago italiano “Luigi”
- o maior na magia!
Vestido de
maneira impecável num clássico paletó “asa de grilo” onde, na banda, assentava
uma flor e no imaculado peitilho sobressaia um laço branco, dando realce ao seu
porte elegante.
No seu cabelo preto, brilhante, bem colado à cabeça, assentava uma cartola. Nas suas mãos, as luvas brancas completavam o traje, segurando um bordão com punho metálico, talvez prata – quem sabe?.
Natacha entrava em extase, com aquele ritmo sincopado em que ele fazia aparecer e desaparecer, lenços de cores matizadas, pombas, sortes de cartas, num movimento lento olhando o publico, impressionante e sem falhas. Os seus movimentos assemelhavam-se aos de um perfeito bailarino.
A sua esguia e elegante figura, emprestava-lhe uma dignidade muito especial na presença em palco e aos números que exibia, sempre exuberantemente aplaudidos pelo público. De facto ele era o maior!
No seu cabelo preto, brilhante, bem colado à cabeça, assentava uma cartola. Nas suas mãos, as luvas brancas completavam o traje, segurando um bordão com punho metálico, talvez prata – quem sabe?.
Natacha entrava em extase, com aquele ritmo sincopado em que ele fazia aparecer e desaparecer, lenços de cores matizadas, pombas, sortes de cartas, num movimento lento olhando o publico, impressionante e sem falhas. Os seus movimentos assemelhavam-se aos de um perfeito bailarino.
A sua esguia e elegante figura, emprestava-lhe uma dignidade muito especial na presença em palco e aos números que exibia, sempre exuberantemente aplaudidos pelo público. De facto ele era o maior!
Natacha de
pé, era uma das fãs que vibrava intensamente com as magníficas prestações
ilusionistas .
Era um facto - a figura majestosa do artista perturbara-a profundamente, ao ponto de ir para o quarto, partilhado por mais duas amigas, a pensar naquela visão mágica quase,esfingica, de Luigi – o mágico!
Era um facto - a figura majestosa do artista perturbara-a profundamente, ao ponto de ir para o quarto, partilhado por mais duas amigas, a pensar naquela visão mágica quase,esfingica, de Luigi – o mágico!
Foi com
grande emoção que, no dia seguinte, no restaurante onde trabalhava, deparou com
o artista – ele alí estava, bem perto dela, sentado numa mesa, sozinho,
para almoçar.
Reparou que, mesmo sem a mais valia que o traje de trabalho oferecia à dignidade da representação e, também, à idade já denunciada no seu rosto - talvez uns sessenta e muitos anos – mesmo assim, continuava a ser um homem bonito e de extrema elegancia. As rugas, bem desenhadas no rosto, davam-lhe um ar de majestosa maturidade.
Reparou que, mesmo sem a mais valia que o traje de trabalho oferecia à dignidade da representação e, também, à idade já denunciada no seu rosto - talvez uns sessenta e muitos anos – mesmo assim, continuava a ser um homem bonito e de extrema elegancia. As rugas, bem desenhadas no rosto, davam-lhe um ar de majestosa maturidade.
Natacha, visivelmente satisfeita com o acontecimento, não perdeu tempo. Correu na direcão da mesa onde tal personalidade se sentara, estendendo-lhe, de certa forma precipitada, a carta do menu.
Luigi, por
sua vez, não deixou de reparar no nervosismo de Natacha. Olhou para ela,
surpreso, dedicando-lhe alguma
atenção, reparou com agradável
satisfação que,na sua frente, estava uma jovem extraordinariamente bonita.
Sorriu-lhe, aceitando a carta da sua mão um pouco trémula. Natacha, num bom inglês, interpelou-o de imediato:
Sorriu-lhe, aceitando a carta da sua mão um pouco trémula. Natacha, num bom inglês, interpelou-o de imediato:
-
o senhor é o ilusionista Luigi?
– Sim sou eu
mesmo,
– em que lhe posso ser útil, respondeu-lhe admirado e de sorriso aberto
– Oh, desejaria tanto um autógrafo seu! Sabe, é que sou sua admiradora,
gostei muito do seu número de ontem, fiquei fascinada. Admirei sempre a arte da magia. Na minha terra, não perdia um espetáculo de circo!
– em que lhe posso ser útil, respondeu-lhe admirado e de sorriso aberto
– Oh, desejaria tanto um autógrafo seu! Sabe, é que sou sua admiradora,
gostei muito do seu número de ontem, fiquei fascinada. Admirei sempre a arte da magia. Na minha terra, não perdia um espetáculo de circo!
- De onde é, interrogou Luigi.
- Da Ucrania
- Bonito país
de lindas mulheres, retorquiu-lhe galanteador.
Luigi de
imediato e numa pequena folha de papel colorida onde era anunciado o espetaculo
que, entretanto,lhe fora cedida por ela e retirada do bolso do avental, rabiscou o seu autografo por cima da sua
fotografia, amarrotada, com uma dedicatória a preceito: “Para a minha bonita
admiradora, com grande simpatia”
- Já agora,
diga-me o seu nome, desferiu ele, aproveitando a ocasião.
-Natacha, respondeu-lhe, pedindo-lhe que o
escrevesse para melhor completar a dedicatória.
Entretanto,
foi rapidamente surpreendida pelo olhar atento e reprovativo do patrão - um belga de poucas falas - que lhe fizera um sinal para ela se afastar - ele não permitia que as empregadas ficassem à
conversa com os clientes – Luigi, ainda lhe disse, com ela a afastar-se e a
olhar para trás - tenho muito prazer em lhe oferecer bilhetes para si e
quem mais quizer levar a ver o espetáculo, sempre que desejar.
Natacha
a partir daí, ficou presa aquela imagem quando, Luigi ,lhe devolveu o pequeno
cartaz por ele autografado, com um olhar intencionalmente penetrante a
pretender captar, em breves segundos, tudo o que ia na sua alma, naquele
fugidio e preciso
momento.
Falara,
à noite, com a sua amiga Ana, companheira de viagem, sobre este assunto e o homem que estava tanto a
bulir com ela. Porém, a amiga, em risadas
incontidas por visionar uma situação tão desajustada ao seu perfil, - de mulher prática, descomprometida e a curtir
a vida sem qualquer outra preocupação que não fosse simplesmente curti-la! -
não queria, pois, acreditar naquilo que estava ouvindo – Natacha
confessar-lhe que estava gamada por um homem “já fora de uso!”! Isto não fazia parte do seu estilo – jamais!
Mas cada um que orientasse a vida como melhor entendesse – amigo não empata
amigo! E ela não era propicia a dar conselhos!
Apesar disso, as idas ao circo, continuaram, a partir daquele dia. Logo nas primeiras filas aí estava ela a aplaudir entusiasticamente Luigi – o seu grande heroi - aquele que a fazia sonhar, numa envolvencia artistica que a fascinava, sobretudo por aquela figura esguia, qual Deus misterioso que, em sortilegios maravihosos, exibia os seus poderes quase sobrenaturais.
Nessa
noite e dando seguimento ao que fora combinado, numa das idas de Luigi ao
restaurante, Natacha, não foi para o pequeno quarto onde era costume dormir.
Luigi apercebeu-se, no fim da sua actuação, a partir de um breve sinal que ela
pretendia falar com ele. Assim aconteceu. Natacha esperava-o proximo da porta
de sáida.
Com visivel satisfação de Luigi ao deparar-se com aquela linda rapariga, à sua espera. Não perdeu tempo a oferecer-lhe o seu braço para depois seguirem, naquela noite quente , pelo passeio na marginal, à beira de um mar sem ondas em que o luar, nele reflectido, emprestava-lhe uma beleza de serenos movimentos, côr de prata.
Com visivel satisfação de Luigi ao deparar-se com aquela linda rapariga, à sua espera. Não perdeu tempo a oferecer-lhe o seu braço para depois seguirem, naquela noite quente , pelo passeio na marginal, à beira de um mar sem ondas em que o luar, nele reflectido, emprestava-lhe uma beleza de serenos movimentos, côr de prata.
Seguiam
mudos. Ela não estava bem acostumada aqueles tiques de gentileza latina de
caminhar de braço dado. Porém, naquele momento, os sentidos falavam mais alto.
As palavras eram desnecessárias . Ela unicamente sentia o seu cheiro e a sua
presença máscula. Conseguiram , pouco depois, entrar num bar, daqueles que,
sempre teimam em fechar, em que os retardatários já não falam, tentando não
fechar os olhos. São os últimos, aqueles que ficam até ás últimas consequencias
do último copo. Os dois ficaram, também, bebendo e conversando, animadamente, pela
noite dentro, até que, o dono do bar, começara a fechar as portas do
estabelecimento. Todos se levantaram – uns mais embriegados que os outros –
mas todos conseguiram saír sem confusão.
Completamente bebados!
Depois disto e sem saber como, Natacha, estava a subir os degraus que davam acesso à grande “roulote” onde Luigi habitava, possuida de um enlevo que lhe dava a sensação de flutuar nas nuvens. Um frémito de desejo percorria o seu corpo. Naquela pequena habitação, ela sentiu toda uma envolvencia da presença daquele homem, do seu cheiro, do gosto patenteado numa decoração apelativa à intimidade. Tudo lhe parecia acolhedor propicio ao amor! Estava ardendo de desejo!
Mesmo considerando o pequeno espaço, essa particularidade era o registo que ficava do seu utilizador.
Embora
a sua juventude fosse marcada pelo sentido prático da vida, Natacha, era
sensivel à beleza – ela era orfã de pai e de mãe, lutadores antifascistas que
desapareceram nos confins da Sibéria, por não estarem de acordo com a ditadura
estalinista. Ela fora, então, adotada por um casal amigo dos pais, ligados ao
mundo das artes – a mãe adotiva era professora de canto e o pai era escritor
- crescendo, desde muito nova, num ambiente fora do comum em que, a arte,
era o oxigénio respirado, nas tertulias caseiras daquela família.
Luigi
era efetivamente um verdadeiro artista – utilizava a sua arte, com
exuberancia, também, para projectar um ambiente de magia – ele sabia quanto
impressionava Natacha. Nessa noite, em sessão privada, vestiu o seu roupão de
veludo, com um monograma bordado com as iniciais do seu nome.
Em redor do pescoço, um lenço branco compunha a sua figura cuidada, dando-lhe o toque boémio, dos anos vinte.
Em redor do pescoço, um lenço branco compunha a sua figura cuidada, dando-lhe o toque boémio, dos anos vinte.
Natacha,
deitada num maple que servia, também. de cama, aconchegada nas fofas
almofadas de conforto, assistia extasiada às diversas sortes de magia que,
Luigi, caprichava exibir, em ritmados e exuberantes gestos, para
interagir com um público imaginário, em que ela se destacava, com o olhar preso
em si
Nesse momento só ele existia e o seu mistério de homem solitário, bem curtido pela vida em que, histórias mil, estavam contadas nos sulcos do seu rosto. Alí, naquele grande/ pequeno espaço – era Luigi, o maior, o misterioso mago!
Nesse momento só ele existia e o seu mistério de homem solitário, bem curtido pela vida em que, histórias mil, estavam contadas nos sulcos do seu rosto. Alí, naquele grande/ pequeno espaço – era Luigi, o maior, o misterioso mago!
A
noite terminou com os dois enleados no mesmo abraço. A primeira luz da manhã esgueirava-se, agora, através dos pequenos cortinados salpicando de
luz os corpos envolvidos, na apertada cama, daquele improvisado apartamento, depois de uma refrega
de sexo em que, Natacha foi, então, ela, a grande artista convidada, - a maior
na magia dos sentidos, num desempenho e perfomance exemplar, mostrando a
sua capacidade nessa matéria, apoiada na força que a sua juventude lhe emprestava.
Começara
a amanhecer, quando, ela, libertando-se lentamente dos braços de Luigi, pegou
nas suas escassas roupas e, pé ante pé, deixou a caravana, seguindo célere
pelas ruas desertas em que uma suave brisa acariava o seu rosto, num culminar
de sentimentos de grande prazer e felicidade.
Alguns
convivas, dispersos, deambulavam pedrados -
seguindo às umbigadas, de braço dado - para melhor se aguentarem
de pé e não se estatelarem no chão!.
Chegou
pouco depois, ao apartamento, caindo na cama deliciosamente exausta , não
tardando em adormecer. As amigas ainda dormiam, não dando pela sua entrada.
O
relacionamento com o iluisionista ia-se mantendo numa cadencia frequente.
Sempre que o espetaculo terminava, depois de largar o serviço, seguia ligeira
para junto do seu ídolo onde, depois, curtiam, bebendo e, sobretudo, trocando
exuberantemente, após sessões privadas de magia, os inegáveis prazeres de um
bom sexo, assegurado pelas prestações de Natacha, nesse dominio especifico ,uma
verdadeira “expert.” Ela separava, de forma bem distinta, o prazer
meramente sexual do que poderia advir de
uma profunda envolvencia sentimental.
Para
bem dizer, tal desempenho era muito conseguido, em grande parte e em abono da
verdade, pelo efeito muito especial que, os truques de magia exibidos
pelo grande mestre Luigi, despertavam no imaginário e nos sentidos de Natacha,
atraindo-a para aquele homem que a perturbava, no seu intimo, em que a ilusão,
a curiosidade, se misturavam, dando braços ao seu incontrolavel e insaciavel
desejo, que fazia parte do seu lado sonhador.
Luigi,
homem bem experiente das longas “tournés” da vida e da arte da sedução, como
bom italiano que era, e da cultura herdada, tradicionalmente reconhecida nas
conquistas amorosas em que a latinidade era um elemento fundamental na gestão
apaixonada dos sentimentos. Luigi, revestia-se de todos os cuidados
perante aquela jovem amante.
Com o instinto peculiar de conquista, bem demarcado no seu “ADN,” ela representava, mais uma, a contabilizar na lista do seu bem recheado cardápio amoroso.
Com o instinto peculiar de conquista, bem demarcado no seu “ADN,” ela representava, mais uma, a contabilizar na lista do seu bem recheado cardápio amoroso.
Sabia
quanto a impressionava, tentando recriar um ambiente refinado em que ele era o
principal personagem, catalizador de ilusões, no imaginário daquela jovem rapariga
que, ainda e acima de tudo, tinha uma alma sonhadora.
Em
muitos tempos atrás, na sua querida cidade de Roma, ainda muito novo, antes de
se interessar pelo circo, divertia-se com o emprego que arranjara – um
improvisado de guia turístico talvez, para não lhe chamar de um mais condizente
com a sua actividade no momento: o de “gigolo”
Tivera
sempre um fisico extraordinário, permitindo-lhe uma boa dose de sucesso, junto
do pessoal feminino, muito especialmente das turistas estrangeiras. Algumas
ligações, foram avassaladoras, carregadas de episódios, de momentos de paixão e
sexo, ganhando, sempre, bom dinheiro, através das mulheres já avançadas na
idade. Nunca conseguiu manter, porém, uma relação estável e duradoura. Era
bastante confiante nas relações com o sexo oposto, talvez por, nesse campo, não
contabilizar derrotas. Adorava demasiado as mulheres para, só a uma, pertencer,
tornando-se, por esse facto, um libertino assumido.
Quando,
um dia, certo empresário de origem hungara, reparou na sua figura e arte de
comunicar, depois de um certo dia o ter observado, numa esplanada de um Café,
em Roma, e ter constatado a facilidade com que ele interagia com os
estrangeiros, convidou-o a ingressar no elenco do seu circo como mestre de
cerimónia, na apresentação dos respectivos números.
Ele
abraçou de braços abertos tal oportunidade já que era uma ótima ocasião para
fugir do ambiente fascista que grassava em Itália e, assim, talvez poder
escapar ao ingresso nas hostes legionárias fascistas de Mossulini.
Desde
então, nunca mais pensou em escolher outra actividade - descobrira que era, efectivamente, aquilo que
queria fazer na vida. Dava certo com o seu perfil de homem irrequieto, leviano
e aventureiro, sem qualquer projecto futuro, que de forma alguma permitiria
assumir ,um dia, uma relação séria em
companhia de uma mulher.
Foi,
assim, pouco a pouco, estudando a arte
da magia. Para tal teve a sorte de conhecer, no circo, um velho artista. Com uma grande ajuda desse amigo e colega da arte
da ilusão e, também, companheiro das grandes tournés, por esse mundo fora, foi
aprendendo os diversos truques da arte. Poucos anos depois.com a morte desse velho e grande amigo, herdou todo
o material, bem como o registo de alguns truques que ele sempre conservara. Por
outro lado, esta vida artística, proporcionava-lhe viajar por todo o lado,
considerando a solidez empesarial do
Circo, bem gerido quer na parte artística como, ainda, na parte financeira.
Também
era um facto incontestado que, ele, era altamente respeitado pela excelencia
dos seus espetaculos. Era minucioso e um
perfecionista no seu trabalho. Muito embora lhe fosse reconhecida uma vida
conturbada de ligações amorosas mais ou menos fugazes, mas sempre
avassaladoras.
Os
anos foram passando. Com ele iam ficando recordações de toda uma vida bem
recheada de encontros e desencontros amorosos em que o iam marcando, cada vez
mais, deixando-lhe alguns estragos, no seu coração de homem solitário.
Natacha,
sentia-se atraída - quase que obsecada - por tudo o que, aquele homem,
despertava nela.
Não sabia bem identificar este novo sentimento, nem tão pouco estava muito interessada em faze-lo.
Não tinha apetencia, nem sequer tempo vivido para se dar ao luxo de divagações filosóficas da vida, preferindo, antes e simplesmente, viver – mas, uma coisa era certa – nutria por ele um fascinio e uma grande curiosidade. Este estado de alma perturbava-a de certa forma, dando-lhe uma outra dimensão sentimental, bastante agradável, mas obsecante – o que lhe dava uma certa postura atípica.
Não sabia bem identificar este novo sentimento, nem tão pouco estava muito interessada em faze-lo.
Não tinha apetencia, nem sequer tempo vivido para se dar ao luxo de divagações filosóficas da vida, preferindo, antes e simplesmente, viver – mas, uma coisa era certa – nutria por ele um fascinio e uma grande curiosidade. Este estado de alma perturbava-a de certa forma, dando-lhe uma outra dimensão sentimental, bastante agradável, mas obsecante – o que lhe dava uma certa postura atípica.
Luigi
estava, por sua vez, a ficar confuso com o que lhe estava também a acontecer.
A soberba arrogante de macho latino e de sedutor credenciado que lhe vinha conferindo aquela segurança de pisar um terreno bem conhecido, em que era sempre o dominador, estava a ser de certa forma abalada e posta em causa por aquela bonita e despreocupada jovem.
A soberba arrogante de macho latino e de sedutor credenciado que lhe vinha conferindo aquela segurança de pisar um terreno bem conhecido, em que era sempre o dominador, estava a ser de certa forma abalada e posta em causa por aquela bonita e despreocupada jovem.
Com
efeito, já se interrogava sobre o que lhe estava a suceder – Ela estava, mesmo,
a bulir com ele mais do que era normal, minando a sua segurança e o habitual
controlo sentimental Um dia, deu-se ao
desplante e à bobagem de lhe prometer que lhe demonstraria alguns truques
da sua arte de magia, sempre até então, ciosamente guardados, por critérios de salvaguarda da sua profissão. Seria que estava mesmo a
envelhecer? Interrogava-se com alguma angustia e preocupação.
Certa
noite, ao regressarem do Bar, em que era frequente conversarem, e já bem
instalados na caravana, numa envolvencia intimista e repleta de cumplicidades
nos seus olhares, Luigi, pacientemente, foi demonstrando como eram realizados
alguns truques das magias que mais a fascinavam. Ele tinha necessidade de
ofertar qualquer coisa de importante, aquela linda rapariga e nada havia de
mais sagrado que alguns segredos dos seus truques – queria, assim, dar-lhe uma
prova do amor que estava a sentir.
Com
os olhos arregalados nos desenvolvimentos das sequencias dos truques que
estavam a ser explicados, Natacha ia
sentindo, à medida que se iam sucedendo, uma sensação desconfortável e
perplexidade que a confundiam estranhamente . De repente – como se
despertasse de um sonho, ela ia dando conta que, dentro de si, estavam a surgir
sentimentos confusos e perturbadores, como se fosse uma indigestão após um
farto almoço e, também, como o ruir de um baralho de cartas.
A
ilusão dissipava-se inexoravelmente depois de saber como aqueles truques eram
feitos.
Curiosamente, a figura daquele homem, ali, à sua frente, reduzia-se, agora, a uma insignificante personagem, - como era possível ela estar alí, naquele lugar, com aquele homem muito mais velho?
Curiosamente, a figura daquele homem, ali, à sua frente, reduzia-se, agora, a uma insignificante personagem, - como era possível ela estar alí, naquele lugar, com aquele homem muito mais velho?
Despertava
de um sonho em que, a realidade, sobressaia
de forma implacável.
Então,
um sentimento de rejeição apoderava-se dela de forma perturbadora. Reparava, agora, mais atentamente, nas rugas daquele rosto, naquele
fato pendurado, já um pouco coçado, naquele espaço reduzido em que alguns
cartazes de espetáculos de datas muito anteriores colados por detrás de
um pequeno roupeiro, a evidenciar fotos de Luigi. Afigurava-se-lhe, agora, fora do contexto que
pertecencia a um passado que nada lhe dizia
.
Tudo,agora,
lhe parecia imensamente pequeno! Asfixiante, fora de uso! Até o cheiro que
tanto a inebriava, era, agora diferente.
Uma
dor no estomago, seguida de um enorme desejo de vomitar, com a cabeça andando à
roda, tomavam conta dela.
Apercebeu-se
que experimentava uma nova sensação tremendamente desconfortável de
rejeição .
Tinha
de sair dali. Ela já não pertencia aquele mundo. Não compreendia o que se
estava passando - sabia, sim, que tinha
de sair o mais rápido possivel.
Na
sua frente, sem se aperceber, Luigi continuava mostrando os truques das magias
que tanto a tinham entusiasmado, mal cuidando que, agora, estavam, ao invés e impiedosamente, desencandeando estranhos e
confusos sentimentos em Natacha.
Era
como se ela ,abruptamente, tivesse despertado de um sonho! As dores de estomago aumentavam e uma certa
desorientação avisinhava-se com rapidez.
De
repente, num gesto irreflectido, levantou-se e com um ar lastimoso pediu-lhe
desculpa - tinha de retirar-se de
imediato, pois acabara de sentir uma tremenda dor abdominal.
Luigi inconformado e perplexo por esta atitude completamente inesperada, prontificou-se acompanha-la ao seu apartamento, ao que ela recusou enfaticamente, despedindo-se, logo de seguida,com um beijo - sem chama, quase formal.
Luigi inconformado e perplexo por esta atitude completamente inesperada, prontificou-se acompanha-la ao seu apartamento, ao que ela recusou enfaticamente, despedindo-se, logo de seguida,com um beijo - sem chama, quase formal.
Já,
na rua, Natacha, correu solta como um animal livre, sentindo a briza do mar a
acariciar-lhe o rosto. À medida que se afastava daquele local, ia sentindo um
inefável sentimento de liberdade.
No
dia seguinte, pela manhã cedo, contou à amiga tal mudança operada nos seus
sentimentos. Ela não ficou nada admirada – com um riso frenético disse-lhe que
há muito estava esperando por esse desfecho.
Tal romance, quanto ela, não assentava bem no perfil da amiga. Com
grande alegria e abraçada a Natacha,fez-lhe depois uma proposta: acabara de
conhecer no bar dois jovens franceses, estudantes
que estavam de passagem e se dirigiam para Portugal num WW “carocha”
Que
tal aceitar o convite deles?
Tal
situação ajustava-se naquele preciso momento ao problema de Natacha,
proporcionando-lhe aquilo que queria mesmo fazer, fugir imediatamente dali,
fosse para onde fosse, mas que lhe desse de volta a estabilidade emocional que
estava francamente a precisar.
Não
queria mais pensar naquilo que lhe acontecera ultimamente.
A
sua amiga exultou com tal decisão, tomada tão rapidamente, pois sabia que era o
melhor desfecho para que Natacha não viesse a sofrer com tal atipica relação.
Nesse
mesmo dia, atirando com as mochilas para
dentro do velho WW de cor amarela, seguiram rumo ao Algarve. A aparelhagem sonora bombava com toda a força
dos seus muitos decibeis.
Uma
manifestação de liberdade e de alegria era a nota dominante daqueles jovens.
Natacha voltara à estrada – estava feliz. Era novamente uma mulher livre!
Docarmo
Outubro de 2012
Outubro de 2012